Segundo Arun Gandhi, o mundo em que vivemos
nada mais é do que aquilo que fazemos dele. O neto de Mahatma Gandhi, diz que
se mudarmos a nós mesmos, poderemos mudar o mundo. Ele assevera que a mudança
começa por meio da linguagem e dos nossos métodos de comunicação.
O que vamos construir depende da nossa interação
com o mundo, toda interação abre um leque de possiblidades, tanto para o bem
quanto para o mal. A comunicação é uma ferramenta imprescindível para nossa
inserção na vida social, portanto ela deve ser uma ferramenta de conexão, um
meio para facilitar a construção de relacionamentos.
O psicólogo
americano Marshall Rosenberg criou um método de comunicação denominado de CNV (Comunicação
Não-Violenta). Este método nos ensina a observar e identificar os comportamentos e as condições
que estão nos afetando. Ele diz que a
CNV substitui nossos habituais padrões de defesa, recuo ou ataque, que ocorrem
quando nos deparamos em situações desconfortáveis, como as que envolvem
julgamentos e críticas, esta mudança de postura nos permite perceber melhor,
nossos relacionamentos e as intenções desses relacionamentos.
A CNV é um
método de comunicação que nos ensina a observar mais e adjetivar menos, nos
habilita a emitir opinião sem perder a capacidade de ser tolerante, ou seja,
filtrar nossas ideias preconcebidas. De acordo com Rosenberg a prática da CNV
amplia a nossa percepção sobre nós mesmos e sobre as pessoas com as quais nos
relacionamos.
Também
conhecida como comunicação compassiva, a CNV, em sua essência busca retratar
uma comunicação que seja a base da empatia, que ao invés de enaltecer
julgamentos de valor, busca a compreensão das intenções pretendidas das partes
envolvidas no processo de comunicação.
Quando conseguimos interagir, comunicar de forma
compassiva, respeitosa,
com o intuito de compreender, manter ou estabelecer relações, estamos
praticando a CNV, que é um método que tem o intuito de tornar afável a maneira como iremos nos expressar, para
que nossa comunicação não seja impositiva, insultuosa, nem agressiva. Vale ressaltar que não há como
exercer a CNV enquanto não nos livrarmos das atitudes egocêntricas,
gananciosas, preconceituosas e agressivas.
Ter sensibilidade com o desconforto dos outros é um
dos preceitos do bushido (código de conduta dos samurais), este tipo de postura
pode atenuar ou evitar conflitos. De acordo com o código de conduta dos
samurais não é relevante o quanto uma pessoa possa ser capaz ou instruída, pois
quando lhe falta sensibilidade e empatia, ela entenderá o assunto do modo
adequado à sua inexperiência, ou seja, a falta de empatia ou sensibilidade gera
um desconforto que leva a pessoa a um conflito, que pode ser interno ou
externo. A Interpretação equivocada pode desencadear uma situação de conflito.
É preciso admitir que as emoções podem limitar a nossa percepção.
Segundo
Rosenberg, a CNV está fundamentada em habilidades de linguagem e comunicação,
que conseguem fortalecer nossa capacidade de continuarmos humanos, ainda que
estejamos em condições adversas. Ele diz que muitas vezes não nos damos conta,
ou não consideramos "violenta" a maneira de falarmos, porém, nossas
palavras não raro induzem à mágoa e à dor, seja para os outros, seja para nós
mesmos.
Ao
fazermos uma reflexão sobre a CNV, passamos a compreender que quem consegue
desenvolver a capacidade de se comunicar de forma mais empática, conseguirá evitar
muitos conflitos desnecessários, que muitas vezes são oriundos de uma
comunicação falha e deficiente.
De
acordo com a mediadora de conflitos Denise Manfredi, o primeiro passo para
resolver um conflito é se fazer a seguinte pergunta: “Eu quero resolver?”. Se a resposta for positiva, o próximo passo é
se preparar para realizar mudanças, aprender a lidar com situações adversas e
assumir as consequências das decisões tomadas. Ter consciência do que nos afeta é primordial para
conseguirmos identificar e a partir daí buscar soluções para o que desejamos
obter em determinada situação.
Nas sábias palavras de Sun Tzu “O conflito é luz e
sombra, perigo e oportunidade, estabilidade e mudança, fortaleza ou debilidade,
o impulso para avançar e o obstáculo que se opõe.” Entendemos que conflito é
tudo aquilo que nos tira da acomodação, também podemos defini-lo como
“não-conformidade”, “desequilíbrio” ou “força” que desestabiliza a zona de
conforto.
Sun Tzu também afirma que: “Todos os conflitos contêm
a semente da criação ou da destruição”. Entendemos que a capacidade de perceber
a magnitude e as alternativas para enfrentar e solucionar os conflitos serão
determinantes para germinar uma das sementes. O conflito é uma flecha certeira!
O ser humano que não for capaz de lidar com mudanças e situações adversas será
atingido por ela, será um alvo inevitável!
Sempre
que falamos em conflitos mentais, em dúvidas existenciais, eternos dilemas
humanos, é útil recorrer a ensinamentos ancestrais, nesse caso, ao sábio
provérbio do povo Cherokee, indígenas do norte da América: “Dentro de cada
homem batalham dois lobos, um bom e outro ruim. O vencedor será aquele que o
homem alimentar.”
É válido ressaltar que há o lado positivo dos conflitos,
alguns deles acabam exercendo um papel motivador, no comportamento humano, nos
obrigando a fazer mudanças e ajustes. O
conflito também pode alavancar nosso crescimento pessoal e nos resgatar de uma
certa alienação intelectual, comportamental e emocional. Assim sendo, ao
gerenciarmos conflitos, se faz necessário diferenciarmos os aspectos positivos
e negativos. O grande desafio está em saber diferenciar os conflitos que sejam
produtivos dos não produtivos.
Denise
Manfredi, nos
aconselha a identificar a natureza do problema, uma vez que existem vários motivos
para o surgimento do conflito, como exemplos, comunicação ineficiente,
diferenças de ideias, de interesses, de objetivos, de valores e personalidades.
Podendo ocorrer entre pessoas, grupos ou organizações, o conflito é inevitável,
ou seja, onde houver pessoas haverá conflito, pois sempre existirão divergências
de pensamentos, percepções e ações que servirão de estopim para seu surgimento.
Como os conflitos ocorrem em contextos e intensidades
diferentes, haverá consequentemente diferentes estilos e maneiras de
abordá-los. Assim, o gestor de conflitos pode e deve fazer uso das diversas
técnicas ou ferramentas existentes. O seu sucesso estará associado à sua
capacidade de identificar o estilo e a ferramenta que seja mais adequada a cada
situação de conflito.
O fato é que a busca pelo equilíbrio emocional deve
ser um exercício diário, principalmente para aqueles que estão inseridos numa
sociedade extremamente materialista e que enaltece o individualismo.
O Gerenciamento
de conflitos é um encontro entre as “verdades” de cada ser humano, um acerto de
contas, muito complexo, pois nos obriga a admitir que existem outras verdades,
ou seja, a verdade de outrem. Quanto
maior for o interesse em buscar e compreender outros pontos de vista, maiores
serão as possiblidades de lidar com os conflitos, pois todo aquele que se abre
para outras possiblidades viabiliza um processo de aprendizado e de
transformação, que nos permite examinar tanto o “eu” interior como também o do
outro.
Na
discussão em pauta tornam-se nítidos os dois aspectos da CNV e da própria
gestão de conflitos. Há dois campos onde atuar, dois cenários a serem
gerenciados: Um é o ambiente de negócios, o outro é a mente do gestor. Treinar
a mente à compassividade é possível e recomendável, mas muito mais eficaz é
fazer com que a pessoa, como nos ensina o Dharma, livro sagrado do Budismo, busque
sempre o “caminho do meio”, evitando as posturas extremadas, das quais é muito
mais difícil sair e tornam quem as adota, seres inflexíveis.
Vale
observar também que os maiores dilemas da humanidade estão apenas revestidos de
novas tecnologias. Por exemplo, falamos nesse texto sobre comunicação, mas para
resolver esse dilema, o homem já pintou as paredes das cavernas, já fez sinais
de fumaça, já bateu tambores, treinou pombos-correio, e cá estamos nós,
publicando via Internet, mais um artigo sobre comunicação.
AUTORES: Carlena Pompeu, Luciano Conceição e Sandro Pinto
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