29 de abr. de 2017

COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA E GESTÃO DE CONFLITOS


Segundo Arun Gandhi, o mundo em que vivemos nada mais é do que aquilo que fazemos dele. O neto de Mahatma Gandhi, diz que se mudarmos a nós mesmos, poderemos mudar o mundo. Ele assevera que a mudança começa por meio da linguagem e dos nossos métodos de comunicação.
O que vamos construir depende da nossa interação com o mundo, toda interação abre um leque de possiblidades, tanto para o bem quanto para o mal. A comunicação é uma ferramenta imprescindível para nossa inserção na vida social, portanto ela deve ser uma ferramenta de conexão, um meio para facilitar a construção de relacionamentos.
O psicólogo americano Marshall Rosenberg criou um método de comunicação denominado de CNV (Comunicação Não-Violenta). Este método nos ensina a observar e identificar os comportamentos e as condições que estão nos afetando.  Ele diz que a CNV substitui nossos habituais padrões de defesa, recuo ou ataque, que ocorrem quando nos deparamos em situações desconfortáveis, como as que envolvem julgamentos e críticas, esta mudança de postura nos permite perceber melhor, nossos relacionamentos e as intenções desses relacionamentos.
A CNV é um método de comunicação que nos ensina a observar mais e adjetivar menos, nos habilita a emitir opinião sem perder a capacidade de ser tolerante, ou seja, filtrar nossas ideias preconcebidas. De acordo com Rosenberg a prática da CNV amplia a nossa percepção sobre nós mesmos e sobre as pessoas com as quais nos relacionamos.
Também conhecida como comunicação compassiva, a CNV, em sua essência busca retratar uma comunicação que seja a base da empatia, que ao invés de enaltecer julgamentos de valor, busca a compreensão das intenções pretendidas das partes envolvidas no processo de comunicação.

Quando conseguimos interagir, comunicar de forma compassiva, respeitosa, com o intuito de compreender, manter ou estabelecer relações, estamos praticando a CNV, que é um método que tem o intuito de tornar afável a maneira como iremos nos expressar, para que nossa comunicação não seja impositiva, insultuosa, nem agressiva. Vale ressaltar que não há como exercer a CNV enquanto não nos livrarmos das atitudes egocêntricas, gananciosas, preconceituosas e agressivas.
Ter sensibilidade com o desconforto dos outros é um dos preceitos do bushido (código de conduta dos samurais), este tipo de postura pode atenuar ou evitar conflitos. De acordo com o código de conduta dos samurais não é relevante o quanto uma pessoa possa ser capaz ou instruída, pois quando lhe falta sensibilidade e empatia, ela entenderá o assunto do modo adequado à sua inexperiência, ou seja, a falta de empatia ou sensibilidade gera um desconforto que leva a pessoa a um conflito, que pode ser interno ou externo. A Interpretação equivocada pode desencadear uma situação de conflito. É preciso admitir que as emoções podem limitar a nossa percepção.
Segundo Rosenberg, a CNV está fundamentada em habilidades de linguagem e comunicação, que conseguem fortalecer nossa capacidade de continuarmos humanos, ainda que estejamos em condições adversas. Ele diz que muitas vezes não nos damos conta, ou não consideramos "violenta" a maneira de falarmos, porém, nossas palavras não raro induzem à mágoa e à dor, seja para os outros, seja para nós mesmos.
Ao fazermos uma reflexão sobre a CNV, passamos a compreender que quem consegue desenvolver a capacidade de se comunicar de forma mais empática, conseguirá evitar muitos conflitos desnecessários, que muitas vezes são oriundos de uma comunicação falha e deficiente.
De acordo com a mediadora de conflitos Denise Manfredi, o primeiro passo para resolver um conflito é se fazer a seguinte pergunta: “Eu quero resolver?”. Se a resposta for positiva, o próximo passo é se preparar para realizar mudanças, aprender a lidar com situações adversas e assumir as consequências das decisões tomadas. Ter consciência do que nos afeta é primordial para conseguirmos identificar e a partir daí buscar soluções para o que desejamos obter em determinada situação.
Nas sábias palavras de Sun Tzu “O conflito é luz e sombra, perigo e oportunidade, estabilidade e mudança, fortaleza ou debilidade, o impulso para avançar e o obstáculo que se opõe.” Entendemos que conflito é tudo aquilo que nos tira da acomodação, também podemos defini-lo como “não-conformidade”, “desequilíbrio” ou “força” que desestabiliza a zona de conforto.
Sun Tzu também afirma que: “Todos os conflitos contêm a semente da criação ou da destruição”. Entendemos que a capacidade de perceber a magnitude e as alternativas para enfrentar e solucionar os conflitos serão determinantes para germinar uma das sementes. O conflito é uma flecha certeira! O ser humano que não for capaz de lidar com mudanças e situações adversas será atingido por ela, será um alvo inevitável!
Sempre que falamos em conflitos mentais, em dúvidas existenciais, eternos dilemas humanos, é útil recorrer a ensinamentos ancestrais, nesse caso, ao sábio provérbio do povo Cherokee, indígenas do norte da América: “Dentro de cada homem batalham dois lobos, um bom e outro ruim. O vencedor será aquele que o homem alimentar.”
É válido ressaltar que há o lado positivo dos conflitos, alguns deles acabam exercendo um papel motivador, no comportamento humano, nos obrigando a fazer mudanças e ajustes.  O conflito também pode alavancar nosso crescimento pessoal e nos resgatar de uma certa alienação intelectual, comportamental e emocional. Assim sendo, ao gerenciarmos conflitos, se faz necessário diferenciarmos os aspectos positivos e negativos. O grande desafio está em saber diferenciar os conflitos que sejam produtivos dos não produtivos.
Denise Manfredi, nos aconselha a identificar a natureza do problema, uma vez que existem vários motivos para o surgimento do conflito, como exemplos, comunicação ineficiente, diferenças de ideias, de interesses, de objetivos, de valores e personalidades. Podendo ocorrer entre pessoas, grupos ou organizações, o conflito é inevitável, ou seja, onde houver pessoas haverá conflito, pois sempre existirão divergências de pensamentos, percepções e ações que servirão de estopim para seu surgimento.
Como os conflitos ocorrem em contextos e intensidades diferentes, haverá consequentemente diferentes estilos e maneiras de abordá-los. Assim, o gestor de conflitos pode e deve fazer uso das diversas técnicas ou ferramentas existentes. O seu sucesso estará associado à sua capacidade de identificar o estilo e a ferramenta que seja mais adequada a cada situação de conflito.
O fato é que a busca pelo equilíbrio emocional deve ser um exercício diário, principalmente para aqueles que estão inseridos numa sociedade extremamente materialista e que enaltece o individualismo.
 O Gerenciamento de conflitos é um encontro entre as “verdades” de cada ser humano, um acerto de contas, muito complexo, pois nos obriga a admitir que existem outras verdades, ou seja, a verdade de outrem.  Quanto maior for o interesse em buscar e compreender outros pontos de vista, maiores serão as possiblidades de lidar com os conflitos, pois todo aquele que se abre para outras possiblidades viabiliza um processo de aprendizado e de transformação, que nos permite examinar tanto o “eu” interior como também o do outro.
Na discussão em pauta tornam-se nítidos os dois aspectos da CNV e da própria gestão de conflitos. Há dois campos onde atuar, dois cenários a serem gerenciados: Um é o ambiente de negócios, o outro é a mente do gestor. Treinar a mente à compassividade é possível e recomendável, mas muito mais eficaz é fazer com que a pessoa, como nos ensina o Dharma, livro sagrado do Budismo, busque sempre o “caminho do meio”, evitando as posturas extremadas, das quais é muito mais difícil sair e tornam quem as adota, seres inflexíveis.
Vale observar também que os maiores dilemas da humanidade estão apenas revestidos de novas tecnologias. Por exemplo, falamos nesse texto sobre comunicação, mas para resolver esse dilema, o homem já pintou as paredes das cavernas, já fez sinais de fumaça, já bateu tambores, treinou pombos-correio, e cá estamos nós, publicando via Internet, mais um artigo sobre comunicação.

AUTORES: Carlena Pompeu, Luciano Conceição e Sandro Pinto

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