Como sabem, sempre que leio algo interessante sinto uma imensa vontade de compartilhar com vocês! Sim, sou desses que acreditam no lema “o que é bom deve ser compartilhado”, por isso, me senti na obrigação de postar mais um texto do filósofo Mário Sérgio Cortella.
“Lembra-te de que és mortal”
“Os romanos da Antiguidade tinham um hábito
muito importante: todas as vezes que um general, um líder importante, voltava
de uma dura batalha com uma retumbante vitória, ele entrava na cidade de Roma e
tinha que deixar o exército do lado de fora, num grande campo aberto, que era
chamado de Campo de Marte – dedicado ao deus da guerra. O general subia numa
biga, aquele carro de combate com dois cavalos, conduzida por um escravo. O
líder se apoiava na lateral da biga para ser aclamado pelo povo. E atravessava
toda a cidade de Roma até o senado, onde seria agraciado com a maior honraria
que um general poderia receber naquela época: uma bandeja com folhas de
palmeiras em cima. Era
uma honra inacreditável. Tanto que, contam os cristãos, no Domingo de Ramos se
fez um tapete com folhas de palmeiras para Jesus de Nazaré. Qual o outro nome
que a gente dá em português para uma bandeja de prata? Salva. Portanto, o
general ia receber no senado uma salva de palmas. Com o tempo, a salva de
palmas foi substituída por “aplausos”, dado que as nossas mãos parecem mesmo
com folhas de palmeira.
O general ia em direção ao
senado e, por lei, um segundo escravo acompanhava a biga a pé. Esse segundo
escravo tinha uma obrigação legal: a cada quinhentas jardas, ele tinha que
subir na biga e soprar no ouvido do general a seguinte frase: “Lembra-te que és
mortal”. A biga se deslocava mais quinhentas jardas, e ele sussurrava novamente
o alerta.
Já imaginou? Tem gente que
precisaria de alguém com cargo e função que, ao menos uma vez por semana,
grudasse nele e dissesse: “Lembra-te que és mortal”.
Isso serve para nós, humanos,
que muitas vezes nos orgulhamos de um poder estranho, o poder sobre a natureza,
o de domar os rios, o de construir, o poder sobre as pessoas. A finalidade
central do poder é servir. Eu costumo dizer que um poder que se serve,
em vez de servir, é um poder que não serve. Uma das questões centrais da
ética é regularmos as nossas relações de maneira que o poder possa servir em
vez de se servir. Nós somos um animal tão arrogante que nem aceitamos sermos
chamados de animal. Algumas pessoas acham que tem “gente que vale” e “gente que
vale menos”: minigente, nanogente, subgente. Gente que é menos, por causa da
cor da pele, do sotaque que usa, do dinheiro que carrega, da escolaridade que
tem, do cargo que ocupa, do país que nasceu, da religião que pratica.
Quando alguém tem essa postura,
o reflexo na ética é muito forte. Ética não é uma fachada que você ou eu
usamos. Quando uma pessoa discute ética, quando uma empresa traz o tema à tona,
ela manifesta uma coragem em assumir que a discussão sobre ética não é uma
discussão cínica, na qual fingimos aderir. É uma coisa séria. Afinal de contas,
se estamos falando em ética, estamos falando na capacidade de supormos que
existem relações entre as pessoas que têm de preservar a dignidade do outro e a
sua própria dignidade.
O que é um ser humano? Quem
somos nós? Quem sou eu para dizer assim: “Sabe com quem está falando?” Quem sou
eu para achar que posso fazer o que eu quiser nos negócios, na política? Quem
sou eu para achar que posso praticar a corrupção, o desvio, a quebra de ética?
Quem sou eu para achar que sou mais e, os outros, menos?
Há pessoas que apequenam a
vida, apequenam com o preconceito, apequenam com a arrogância, apequenam com a
venda da própria alma. O que você responde quando alguém pergunta: “Você sabe
com quem está falando?” Qual seria uma resposta possível? Poderíamos responder
o que é um ser humano? Há várias respostas, uma delas, a clássica, de
Aristóteles, do século IV A.C.: “O homem é um animal racional”. Ou Pascal, do
século XVI, que disse: “O homem é um caniço pensante”, uma coisa frágil e
volúvel pensante, ou a definição de que mais gosto, que é de Fernando Pessoa,
que diz: “O homem é um cadáver adiado”.
A ética é a proteção da
integridade, é a capacidade de ter princípios. A ética é a capacidade de saber,
sim, que dilemas vivemos – na família, no trabalho, na empresa, na concorrência
-, mas que isso está ligado aos princípios que nós defendemos.
É preciso colocar em destaque
uma frase do grande beneditino francês, que escreveu Gargântua, Pantagruel, no
século XVI, François Rabelais, que disse: Conheço
muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam”.
Se a gente pode e a gente quer,
a gente deve”.
O texto foi extraído do livro “Qual é a Tua Obra – Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e
ética”.
AUTOR: Mário Sérgio Cortella.
8 comentários:
Muito bom
Me sinto mais gente quando leio Cortella. Jane.
Me sinto mais gente quando leio Cortella.
Muito booom ! Estou lendo "Sangue dos Deuses" (vol V - da se´rie O Imperador, de Conn Iggulden) e ..... vc pode imaginar a alegria !!!! Obrigada !
Adorei o conteúdo, tive contato com os textos do Cortella esses dias na faculdade. É uma leitura que nos faz sentir-se de alma tocada.
Excelente !!!
Maravilhoso!!
LEMBRAS que és mortal. Aonde vc passará a sua eternidade. Jesus Cristo. Eu sou o caminho a verdade e a vida. Engenheiro MAURO
Postar um comentário