"...Costumo estranhar quando
vejo alguns pedindo tempo, e aqueles a quem se pede mostrarem-se muito
complacentes; ambos consideram aquilo pelo que se pede tempo, nenhum, o tempo
mesmo: parece que nada se pede e que nada é dado. Brinca-se com a coisa mais
preciosa de todas; contudo ela lhes escapa sem que percebam, pois é um
incorporal e algo que não salta aos olhos, por isso é considerado muito
desprezível, e em razão disto não lhes atribuem valor algum. Os homens recebem
pensões e aluguéis com muito prazer e concentram neles suas preocupações,
esforços e cuidados, mas ninguém dá valor ao tempo; usa-se dele a rédeas
soltas, como se nada custasse.
Porém, quando doentes, se estão próximos do perigo de morte, prostram-se aos joelhos dos médicos; ou, se temem a pena capital, estão prontos a gastar todos os seus bens para viver. Tamanha é a discórdia de seus sentimentos! Se fosse possível apresentar a cada um a conta dos anos futuros, da mesma forma que podemos fazer com os passados, como tremeriam aqueles que vissem restar-lhes poucos anos e como os poupariam! Pois, se é fácil administrar o que, embora curto, é certo, deve se conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando há de acabar. Contudo não há por que pensar que eles ignoram que coisa preciosa é o tempo: costumam dizer aos que amam muitíssimo que estão dispostos a lhes dar parte de seus dias. E realmente dão, sem se aperceberem disto, mas dão de forma a subtraírem vários anos a si, sem aumentar os daqueles. Mas ignoram o fato mesmo de estarem perdendo seus anos, por isso lhes é tolerável a perda de um bem que não é notado. Ninguém devolverá teus anos, ninguém te fará voltar a ti mesmo. Uma vez principiada, a vida segue seu curso e não reverterá nem o interromperá, não se elevará, não te avisará de sua velocidade. Transcorrerá silenciosamente, não se prolongará por ordem de um rei, nem pelo apoio do povo. Correrá tal como foi impulsionada no primeiro dia, nunca desviará seu curso, nem o retardará. Que sucederá? Tu estás ocupado, e a vida se apressa; por sua vez virá a morte, à qual deverás te entregar, queiras ou não..."
Porém, quando doentes, se estão próximos do perigo de morte, prostram-se aos joelhos dos médicos; ou, se temem a pena capital, estão prontos a gastar todos os seus bens para viver. Tamanha é a discórdia de seus sentimentos! Se fosse possível apresentar a cada um a conta dos anos futuros, da mesma forma que podemos fazer com os passados, como tremeriam aqueles que vissem restar-lhes poucos anos e como os poupariam! Pois, se é fácil administrar o que, embora curto, é certo, deve se conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando há de acabar. Contudo não há por que pensar que eles ignoram que coisa preciosa é o tempo: costumam dizer aos que amam muitíssimo que estão dispostos a lhes dar parte de seus dias. E realmente dão, sem se aperceberem disto, mas dão de forma a subtraírem vários anos a si, sem aumentar os daqueles. Mas ignoram o fato mesmo de estarem perdendo seus anos, por isso lhes é tolerável a perda de um bem que não é notado. Ninguém devolverá teus anos, ninguém te fará voltar a ti mesmo. Uma vez principiada, a vida segue seu curso e não reverterá nem o interromperá, não se elevará, não te avisará de sua velocidade. Transcorrerá silenciosamente, não se prolongará por ordem de um rei, nem pelo apoio do povo. Correrá tal como foi impulsionada no primeiro dia, nunca desviará seu curso, nem o retardará. Que sucederá? Tu estás ocupado, e a vida se apressa; por sua vez virá a morte, à qual deverás te entregar, queiras ou não..."
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