8 de mai. de 2011

A Responsabilidade Social Empresarial e as instituições financeiras

Devido à abertura de mercados e o acirramento da competitividade, as empresas precisam encontrar diferenciais estratégicos. O investimento em Responsabilidade Social Empresarial – RSE - reverbera de forma favorável na imagem e reputação das empresas. 

Segundo o Instituto Ethos, RSE é a forma de gestão definida pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos que ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionam o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. 

Cobrando taxas de juros exorbitantes as instituições financeiras que operam no Brasil conseguem se adequar ao conceito de RSE? Em fevereiro de 2011, a revista Veja publicou uma matéria sobre o lucro dos bancos. De acordo com a publicação nos últimos 10 anos os bancos instalados no Brasil obtiveram lucro superior a 1000%. Além disso, a matéria ressalta o fato das instituições financeiras sobreviverem de emprestar dinheiro ao governo.

A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) coordena ações que os bancos desenvolvem na área social. As ações são conjuntas e tem o intuito de promover a melhoria da qualidade de vida de comunidades e colaboradores, como estímulo à inserção social e ao mundo do trabalho.

Segundo a Febraban,em 2006, os bancos destinaram R$ 654 milhões para causas de interesse social e R$ 250,5 milhões para projetos e iniciativas da área cultural, somas que resultam de verba anual fixa em 40% dos bancos, de valor baseado em percentual da receita (8%) e de valores variáveis (60%), de acordo com a demanda ou deliberação da área que define os investimentos.

Em junho de 2007, objetivando discutir temas relacionados à sustentabilidade que exerçam influência no dia a dia dos bancos e seus stakeholders, a Febraban iniciou o projeto “Café com Sustentabilidade” - encontros para fomentar reflexão crítica e qualificada, com o intuito de  contribuir para convergência de objetivos dentro do setor.

São convidados para participar dos eventos os representantes dos bancos associados, formadores de opinião, representantes de organizações sociais e governamentais e Federações.

Em 2002, representantes de entidades filiadas a BankTrack - rede internacional de ONGs que acompanha os temas socioambientais relacionados ao setor financeiro -  reuniram-se em Collevecchio - Itália - para debater sobre temas relacionados a sustentabilidade. O corolário desse encontro foi à criação da Declaração de Collevecchio.

Segundo a Febraban, em 2003, mais de 200 organizações da sociedade civil endossaram a Declaração de Collevecchio, documento que descreve como o setor financeiro deve fomentar a sustentabilidade, convocando-o a trabalhar temas como impactos, responsabilidade, transparência, prestação de contas e governança corporativa.

De acordo com as informações contidas na Agenda 21 do Banco do Brasil, os riscos ambientais são cada vez mais determinantes para o negócio. A gestão inadequada das questões ambientais pode causar perdas financeiras irreparáveis para empresas e em decorrência para os bancos.

Os bancos estão sujeitos a três tipos de riscos ambientais:

1.   Risco direto – são aqueles aos quais os bancos respondem diretamente como poluidores, riscos associados as suas próprias instalações, uso de papéis, energia, etc. Nessa modalidade se aplica diretamente o Princípio do Poluidor Pagador, ou seja, o banco deve internalizar nos seus custos os gastos de controle de poluição.
2.  Risco indireto – o risco ambiental afetaria a empresa com a qual o banco tem relacionamento como intermediador financeiro, via operações de crédito ou como detentor de ativos financeiros (ações ou títulos de dívida).
3.    Risco de reputação – os bancos vêm sofrendo pressão do público em geral e dos organismos não-governamentais (ONGs), para adotar uma política de financiamento e investimento ambientalmente correta, sob pena de terem sua reputação prejudicada diante da sociedade. A imagem do banco na sociedade é importante para o sucesso conjunto de suas atividades e é considerada como parte de seu patrimônio.
Por meio da sua Agenda 21, o Banco do Brasil assevera que a preocupação das instituições financeiras com as questões ambientais, ocorreu inicialmente como forma de evitar a responsabilização legal por danos ambientais, produzidos por bens que eram recebidos como garantia de empréstimos. 

Mesmo sendo muito lucrativos os bancos não geram muitos empregos. O DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - publicou uma pesquisa sobre os empregos no setor bancário e constatou que do saldo de 2.136.947 postos gerados em todos os setores da economia, os bancos contribuíram com apenas 1,12%. A maior parte dos desligamentos, ao longo do ano, foi o Desligamento a pedido. Os bancários que pediram demissão em 2010 representam 49% do total.  

O Instituto de Defesa do Consumidor – Idec – realizou uma pesquisa referente à responsabilidade sócio empresarial dos bancos brasileiros. O Idec afirma que foram avaliados os seis bancos com o maior número de cliente no País: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Itaú e HSBC. Foram analisadas as práticas e políticas dessas instituições financeiras em relação aos clientes, colaboradores e ao financiamento que elas disponibilizam.

Segundo o Idec a pesquisa constatou que há discrepâncias entre o discurso das instituições financeiras e suas práticas com os seus clientes e os problemas enfrentados por eles diariamente. De acordo com as informações auferidas, os bancos não se saíram bem em alguns pontos específicos como: publicidade e os critérios de responsabilidade socioambiental para conceder financiamentos. O Idec afirma que o HSBC se negou a participar da pesquisa, por isso foi o único banco a ficar com a nota “muito ruim” na nota geral.

O Idec afirma que enviou um questionário, no qual as instituições financeiras deveriam informar suas políticas em relação aos clientes e colaboradores e sobre a responsabilidade socioambiental para os investimentos. Foram avaliados os seguintes itens:

  • Consumidor: Relacionamento com o consumidor, produtos e serviços, dívidas, concessão de crédito e publicidade;
  • Trabalhadores: Liberdade e negociação sindical, código de ética e conduta, direitos/benefícios para os trabalhadores, condições de trabalho e diversidade e inclusão social;
  • Responsabilidade socioambiental para os financiamentos: mudanças climáticas, agropecuária, pesca, mineração, hidroelétricas, manejo florestal e combustíveis;

Após a aplicação do questionário foram avaliadas as práticas adotadas em relação ao consumidor. O Idec afirma ter realizado várias pesquisas para avaliar os serviços bancários e de crédito. De acordo com o Idec também foi avaliado o número de reclamações de clientes registradas pelo Banco Central e Procons.

Os bancos que operam no Brasil cobram taxas de serviços que na maioria das vezes os clientes desconhecem, os caixa eletrônicos inúmeras vezes não estão funcionando, muitas pessoas ficam constrangidas nas portas que detectam metais, não há respeito sobre o prazo máximo de 15 minutos para o atendimento em filas, quanto maior for a inflação, maiores são os seus lucros. Afinal o que há de RSE no setor financeiro?

Para que uma organização possa obter êxito nas práticas de RSE é necessário que o conceito de RSE seja condizente com a sua missão, ou seja, com a razão da sua própria existência. É imprescindível estabelecer prazos e metas, disseminar o objetivo para o público interno e externo, e utilizar ferramentas de controle para avaliar seu desempenho. Para obter informações sobre RSE no setor financeiro sugiro que o leitor verifique o guia dos bancos responsáveis, elaborado pelo Idec.

AUTOR: Luciano Conceição


 
REFERÊNCIAS

AGENDA 21. Banco da sustentabilidade – Banco do Brasil. Brasília, 2007.

DIEESE. Pesquisa de emprego bancário. Disponível em: http://migre.me/4tTf7. Acesso em 05 de mai.2011.

Febraban. Café com Sustentabilidade. Disponível em: http://migre.me/4tTnU. Acesso em 04 de mai.2011.

Veja. Em dia: Por que os bancos têm lucros tão grandes no Brasil. Disponível em: http://migre.me/4tTti. Acesso em 03 de mai. 2011.

Idec. Pesquisa avalia a responsabilidade social empresarial dos bancos. Disponível em: http://migre.me/4tTy0. Acesso em 05 de mai.2011.

Eco-Finanças. Declaração de Collevecchio sobre as instituições financeiras e a sustentabilidade.  Disponível em: http://migre.me/4tV3b.  Acesso em 03 de mai.2011.

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