30 de abr. de 2011

A Educação para os Negócios e os Riscos da Simplificação


Quando eu pergunto a meus alunos no início do curso sobre as razões por trás do acidente nuclear de Fukushima, eu esperava que muitos deles aprofundassem um debate bastante mal estruturado sobre a tecnologia ou a ordem pública. Talvez, eles iriam concentrar-se na incerteza da energia nuclear, ou nos políticos míopes que se recusam a investir em alternativas energéticas sustentáveis. Quando pergunto a eles no final do curso, esperava que a maioria fosse explicar o problema de uma forma mais clara e objetiva. 

Eles podem muito bem dizer que um acidente como Fukushima é possível porque determinamos um preço para a energia não-renovável ​​muito mais baixo que outras, e tem sido assim durante décadas. Ou que nós não levamos suficientemente em conta as externalidades da queima de hidrocarbonetos ou de dividir átomos de urânio, sejam estas para a saúde ou para as alterações climáticas; ou o risco de destruição derivado da energia radioativa. Na verdade, quando se trata de algo tão potencialmente devastador como é a energia nuclear, é fácil argumentar que, se tivéssemos de levar em consideração os verdadeiros custos associados, se tornaria completamente inviável. 
Eles podem até mesmo concluir que nós ainda usamos a energia não-renovável porque estamos em um "dilema do prisioneiro" mundial. Mesmo que fosse interesse de todos consumir energia de forma responsável, se você é a único a ignorar o apelo à moderação, você pode ganhar uma vantagem sobre o resto. Daí ninguém age com moderação. E isso significa que nós continuamos pagando pouco pela energia e consumindo muito, apesar das conseqüências. 

Esta forma de compartimentar um fenômeno em seus componentes fundamentais, usando as teorias baseadas em incentivos, e tirar conclusões a partir da análise é o que queremos dos futuros gestores que saem de uma escola de negócios (Embora geralmente é a última coisa que aprovam, porque a simplificação não é uma técnica fácil de adquirir.)
Eu sou um forte defensor desta abordagem do ensino básico de negócios para MBAs. Por um lado, faz desses executivos pensadores mais rigorosos. Por outro lado, e não vamos nos enganar aqui, ela vai em conflito com a sua expectativa. Pessoas que pagam R$ 50 mil ou mais por um MBA tendem a perguntar "diga-me com clareza, o que o que eu tenho a ver com isso?" 

No entanto, ainda que eu seja um defensor da formação de gestores desta forma, vejo também uma desvantagem perigosa: uma ultrassimplificaçao que gera demasiada confiança. Ou seja, a simplificação é necessária, desde que seja consciente e não alienadora. A análise de desastres Fukushima tragicamente ilustra o que eu quero dizer. Considerando que é bom simplificar o problema para descrever o status quo, torna-se perigosamente enganosa a simplicação se os gestores tem demasiada confiança nessa simplificação para resolver o problema.

De fato, se o fizessem, teriam que concluir que todos nós devemos continuar fazendo negócios como antes, com base na energia barata, como não há saída... Tal inferência não é só equivocada, mas também faz parecer aqueles que apenas têm entendido metade do negócio da energia como pensadores inteligentes. E isso dá uma justificação quase intelectual dos poucos fornecedores de energia estabelecidos que realmente não têm interesse em mudar o status quo. 
Em um mundo no qual as desvantagens do consumo de energia começa a afetar a todos, as nuvens radioativas não param nas fronteiras nacionais e o incentivo a consumir energia mais barata começa a desaparecer. Nós não somos mais obrigados a encerrá-nos ao dilema do prisioneiro. Na verdade, o desafio para todas as partes torna-se agora  criar instituições que suprimam os efeitos indesejados de free-riding, para que possamos coexistir com a energia de uma forma mais sustentável. 

Estudantes de Administração que tomem sua análise a partir deste ponto terão uma grande vantagem. Eles vão se beneficiar de estar na vanguarda deste processo, e serão os primeiros nessa forma de negócio. Mas isso requer uma compreensão da interação estratégica de negócios, que vai além das simplificações básicas que traçamos em nosso núcleo de ensino. Ele demanda os conceitos de informação, coordenação e ação coletiva para além da concorrência. 

Professores de gestão têm muito a dizer sobre estas questões mais complicadas de negócios. Mas para que os alunos em nossas aulas possam aprender que é demasiado simplista ver uma interação comercial através da lente do dilema do prisioneiro, é preciso colocar muito mais ênfase nestes aspectos. Se tivermos uma massa de nossos alunos interessados ​​em iniciar negócios que resolvam tanto sua situação financeira quanto nossos problemas sociais, ao mesmo tempo, então, eventualmente, seus negócios vão criar as opções de que precisamos. Quanto mais se trabalhar com isso, mais rápido ele vai acontecer. Quanto mais rápido isso acontecer, melhor para todos nós.

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