13 de jun. de 2011

A "era do conhecimento" ou "era do queremos saber"?

Estamos vivenciando a dita “era do conhecimento”? Segundo o Aurélio - dicionário da língua portuguesa -, ato ou efeito de conhecer; prática da vida; experiência; consciência de si mesmo; discernimento, dentre outras, são acepções da palavra conhecimento.  Então por que o nosso "saber" ainda não foi capaz de acabar com a pobreza, a fome, a guerra e muitas outras mazelas da humanidade?

Não há como negar o grande avanço tecnológico, assim como não podemos negar a escassez de indivíduos com visão crítica e capacidade de argumentação sólida, aptos para apreender conhecimento e contestar as rédeas do pensamento dominante. Precisamos reavaliar muitas coisas, conceitos como países “desenvolvidos”, “emergentes” etc. Pois o “primeiro mundo” é composto por países algozes da fauna, da flora, enfim do meio ambiente, mas lógico, tudo em nome do “progresso”.  O pior, o resto da manada – “emergentes” e/ou subdesenvolvidos” - segue o mesmo caminho.

Decerto alguma coisa está fora da ordem! A desigualdade social deveria ser exceção, mas lamentavelmente é regra no mundo inteiro. Ainda estamos distante da liberdade, igualdade e fraternidade, tão almejadas pelos filósofos iluministas. Para a maioria das pessoas falta a consciência de si mesmo, o discernimento e tudo aquilo que possa definir a palavra conhecimento, ou seja, falta-lhes o alicerce da liberdade e da autonomia.
Acredito que ainda estamos na “era do queremos saber”. Na conjuntura atual este é o nome mais adequado, condizente com a obscuridade proporcionada pela nossa ignorância. Para me fazer entender e transmitir a minha inquietação compartilho dois trechos do texto “A arte de Viver em paz”, do escritor Pierre Weill:


“... Nunca estivemos tão perto da paz. Mas, ao mesmo tempo, jamais ela nos pareceu tão distante. Já podemos curar doenças que até bem pouco tempo atrás eram terrivelmente mortais...”

“... Dividimos arbitrariamente o mundo em territórios, pelos quais matamos e morremos. Já se produziu armas nucleares que poderiam destruir várias vezes o nosso planeta. A loucura e a competição são tão ferozes que ignoram o óbvio: não haverá uma segunda Terra para ser destruída, nem ninguém ou coisa alguma para acionar o gatilho atômico depois da primeira vez...”


Para poder elucidar o porquê da denominação “era do queremos saber” preciso compartilhar parte da letra de “Queremos saber”, música interpretada por Cássia Eller, de autoria do Gilberto Gil.

"Queremos saber 
o que vão fazer 
com as novas invenções 
queremos notícia mais séria 
sobre a descoberta da antimatéria 
e suas implicações 
na emancipação do homem 
das grandes populações 
homens pobres das cidades 
das estepes, dos sertões 
queremos saber 
quando vamos ter 
raio laser mais barato 
queremos de fato um relato 
retrato mais sério 
do mistério da luz 
luz do disco-voador 
pra iluminação do homem 
tão carente e sofredor 
tão perdido na distância 
da morada do Senhor ..."






Que fique claro que não há problema em querer saber, o problema está na passividade em aceitar o “saber”. Se porventura eu estiver enganado e essa de fato for a “era do conhecimento”, então ouso afirmar que precisamos evoluir para uma nova etapa, ou seja, a “era do reconhecimento”. 

Reconhecer significa conhecer novamente, compreender, certifcar-se de, dentre outras acepções. Que venha a “era do reconhecimento”, que ela nos possibilite o ato ou efeito de conhecer e compreender a real acepção da pobreza, da fome, da guerra. Pois o arrefecimento dessas mazelas não é o suficiente, precisamos dizimá-las.

Que a partir da nova era haja discernimento suficiente para evoluirmos ao ponto de compartilharmos um mundo com muito menos conflitos, onde seja possível exercitar a isonomia, que a preocupação com meio ambiente e a coletividade esteja acima dos interesses econômicos, que o pensamento de longo prazo suplante o imediatismo.


AUTOR: Luciano Conceição

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