Próximo a morada dos homens e bem perto da vila da normalidade
e da lucidez, habitava um pássaro, forte, imponente, de asas grandes e robustas
semelhantes as asas do maior avião conhecido, dono de um canto firme e poético
que seduzia o ambiente e encantava os ouvintes com toda musicalidade que
emanava de seus bicos, sua pele era firme e dura como um diamante, capaz
de suportar as mais pesadas cargas, intempéries e outras adversidades,
isto fazia dele um rei, dominador e conhecedor de seus domínios.
Seus atributos lhe conferiam liberdade e felicidade, pois obtinha
seus recursos com facilidade e aproveitava de sua força e grandeza para
afastar qualquer sinal de ameaça ao seu reinado, e assim foi por anos e anos,
sem predadores, ameaças ou qualquer sinal de invasão, sua zona de conforto
estava estabelecida, uma vida de facilidades, mordomias e acomodações, uma vida
segura e cheia de certezas de perpetuação.
Passados alguns anos, aquela vida de segurança já não
bastava, não satisfazia, e aquele grande pássaro imponente e firme já não se
contentava mais com seus campos lindos e férteis, com seu sol dourado em brasa
e sua lua solitária e radiante, tudo aquilo já não fazia sentido e ele percebeu
que o seu mapa já não era o território. Assim, o pássaro feliz e dominador,
sentiu na imensidão da alma e nas profundezas de seu íntimo tudo aquilo que
provocará e percebeu que aquela vida não bastava, sendo invadido por uma
vontade estranha e necessária de buscar algo novo, um mundo diferente daquele
que estava constituído.
Aventurar-se nesse passeio pelo desconhecido já não era tão
fácil para aquele velho pássaro de couro duro e asas firmes, pois apesar
de toda sabedoria, poder e domínio, lançar-se no desconhecido custaria muita
dedicação, tempo e sacrifício, ele estava ciente que o peso das suas asas
paradas já o impediam de voar e ainda que voasse, temeria a altura, sabia que o
voo seria arriscado e o pouso uma dúvida, uma incerteza, um vazio...
Seu desejo de busca e conquista aumentava a cada dia e suas
fraquezas limitavam o horizonte, o medo do novo confrontava a vontade do
lançamento, mas sentia que era hora de desapegar-se, deixar-se ir, seguir o
fluxo doce da vida, somente jogando-se do alto poderia saber onde chegar,
somente voando teria chance de vencer, mas esta vitória que já não era certa
como outrora, apesar de árdua e sofrida, era importante, particular, secreta,
sem testemunhas, onde o único predador era ele mesmo.
O voo tornou-se uma certeza, mas era preciso coragem para
lançar-se ao vazio e vencer a dúvida e a insegurança, e assim foi! Voando,
planando, deslumbrando-se com cada detalhe, cada milha alcançada, cada
nova janela, cada novo caminho, a renovação e a ressignificação tomou
conta de seu íntimo e a dor do voo firmou-se como a decisão certa, pois se
assim não fosse, restaria apenas a mesmice, a angústia e as certezas que
habitam as gaiolas mentais.
AUTOR: Florisval Frutuoso da Silva Júnior
2 comentários:
Que legal! Muito inspirador. É difícil, mas necessário sair da zona de conforto alcançar nossos objetivos e "crescer na vida". Abs!
Que legal! Muito inspirador. É difícil, mas necessário sair da zona de conforto alcançar nossos objetivos e "crescer na vida". Abs!
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