17 de jul. de 2017

FLORISVAL FRUTUOSO - O voo do pássaro

Próximo a morada dos homens e bem perto da vila da normalidade e da lucidez, habitava um pássaro, forte, imponente, de asas grandes e robustas semelhantes as asas do maior avião conhecido, dono de um canto firme e poético que seduzia o ambiente e encantava os ouvintes com toda musicalidade que emanava de seus bicos, sua pele era firme e dura como um diamante, capaz de suportar as mais pesadas cargas, intempéries e outras adversidades, isto fazia dele um rei, dominador e conhecedor de seus domínios.

Seus atributos lhe conferiam liberdade e felicidade, pois obtinha seus recursos com facilidade e aproveitava de sua força e grandeza para afastar qualquer sinal de ameaça ao seu reinado, e assim foi por anos e anos, sem predadores, ameaças ou qualquer sinal de invasão, sua zona de conforto estava estabelecida, uma vida de facilidades, mordomias e acomodações, uma vida segura e cheia de certezas de perpetuação.

Passados alguns anos, aquela vida de segurança já não bastava, não satisfazia, e aquele grande pássaro imponente e firme já não se contentava mais com seus campos lindos e férteis, com seu sol dourado em brasa e sua lua solitária e radiante, tudo aquilo já não fazia sentido e ele percebeu que o seu mapa já não era o território. Assim, o pássaro feliz e dominador, sentiu na imensidão da alma e nas profundezas de seu íntimo tudo aquilo que provocará e percebeu que aquela vida não bastava, sendo invadido por uma vontade estranha e necessária de buscar algo novo, um mundo diferente daquele que estava constituído.

Aventurar-se nesse passeio pelo desconhecido já não era tão fácil para aquele velho pássaro de couro duro e asas firmes, pois apesar de toda sabedoria, poder e domínio, lançar-se no desconhecido custaria muita dedicação, tempo e sacrifício, ele estava ciente que o peso das suas asas paradas já o impediam de voar e ainda que voasse, temeria a altura, sabia que o voo seria arriscado e o pouso uma dúvida, uma incerteza, um vazio...

Seu desejo de busca e conquista aumentava a cada dia e suas fraquezas limitavam o horizonte, o medo do novo confrontava a vontade do lançamento, mas sentia que era hora de desapegar-se, deixar-se ir, seguir o fluxo doce da vida, somente jogando-se do alto poderia saber onde chegar, somente voando teria chance de vencer, mas esta vitória que já não era certa como outrora, apesar de árdua e sofrida, era importante, particular, secreta, sem testemunhas, onde o único predador era ele mesmo.

O voo tornou-se uma certeza, mas era preciso coragem para lançar-se ao vazio e vencer a dúvida e a insegurança, e assim foi! Voando, planando, deslumbrando-se com cada detalhe, cada milha alcançada, cada nova janela, cada novo caminho, a renovação e a ressignificação tomou conta de seu íntimo e a dor do voo firmou-se como a decisão certa, pois se assim não fosse, restaria apenas a mesmice, a angústia e as certezas que habitam as gaiolas mentais.










AUTOR: Florisval Frutuoso da Silva Júnior

2 comentários:

Anônimo disse...

Que legal! Muito inspirador. É difícil, mas necessário sair da zona de conforto alcançar nossos objetivos e "crescer na vida". Abs!

Anônimo disse...

Que legal! Muito inspirador. É difícil, mas necessário sair da zona de conforto alcançar nossos objetivos e "crescer na vida". Abs!