27 de ago. de 2011

Lugar de mulher é na sala de decisões


Os países emergentes abrigam muitas mulheres de negócios bem sucedidas. Sete das 14 mulheres relacionadas como bilhonárias pela Revista Forbes são chinesas. Segundo pesquisas recentes, muitas empresas nos países emergentes valorizam mais as mulheres como executivas do que as empresas nos países mais desenvolvidos. Pode parecer uma exceção, mas a coisa está mudando nas salas de decisões dos emergentes.
Na China, 32% dos executivos seniores são mulheres, enquanto nos EUA elas são 23% e na Inglaterra são apenas 19%. Na Índia, 11% dos executivos-chefe das maiores empresas do país são mulheres, em contraste com apenas 3% das empresas do mesmo porte nos EUA e na Inglaterra. Se olhamos o ranking elaborado pelo Forum Econômico Mundial dos países com mais mulheres exercendo cargos de CEOs, Turquia e Brasil são, respectivamente, terceiro e quarto colocados. No Brasil, 11% dos CEOs e 30% dos executivos seniores são mulheres.
As mulheres jovens e de classe media estão tomando o tradicional lugar dos homens no que se refere ao nível educativo. Nos Emirados Árabes Unidos (EAU), um país islâmico e tradicionalmente machista, 65% das pessoas com nível superior são mulheres. No Brasil e na China, elas representam 60% e 47%, respectivamente. Na Rússia, 57% das pessoas na Universidade são do sexo feminino. Nas principais escolas de negócios da China (China Europe International Business School) e da Índia (Indian School of Business), elas representam 33% do total, numeros comparáveis às principais escolas de negócios ocidentais, como a Harvard Business School ou o ISEAD.

No livro lançado recentemente, “Winning the War for Talent in Emerging Markets: Why Women are the Solution” (ainda não foi traduzido para o português), as autoras Sylvia Ann Hewlett and Ripa Rashid explicam como as mulheres enfrentam sérios obstáculos nos mercados emergentes. Por exemplo, como elas podem ocupar lugares centrais se em alguns países (a exemplo do EAU) elas nem podem viajar sem estar acompanhada por um homem? E como ter respeito, se na Rússia o termo mulher de negócios se refere às prostitutas? Além disso tem que carregar com as obrigações familiares enquanto fazem negócios.
Mas o cenário para essas executivas nos países emergentes muda com maior velocidade do que o próprio ritmo de crescimento dos países. Ter consumidores em diferentes partes do mundo, como as empresas emergentes costumam ter, pode fazer isso pior. 25% das executivas entrevistadas por Hewlett e Rashid afirmaram trabalhar em media 18 horas semanais a mais do que faziam três anos atrás. E a infraesturura dos países emergentes piora ainda mais a situação. No ranking da IBM para os piores descolamentos de casa ao trabalho (commute) do mundo, Beijing e Cidade do México fizeram 99 dos 100 pontos possíveis. Nova Délhi, Moscou e São Paulo também possuem taxas horríveis. Some isso às obrigações femininas de cuidar dos filhos (levar à escolar, por exemplo) e você terá uma media de 20% do total de horas de trabalho por dia no trânsito. No Brasil, 62% das mulheres afirmam que se sentem inseguras indo ao trabalho, de acordo com o mesmo ranking (download do documento completo, em inglês).

Por outro lado, segundo as autoras, viver nos países emergentes oferece várias vantagens às mulheres executivas. Inicialmente, o acesso à mão-de-obra barata para fazer os serviços de casa e cuidar dos filhos. Ademais, a cultura organizacional nesses países muda muito rápido, o que faz com que as empresas prefiram pessoas mais jovens. Isso beneficia diretamente as mulheres, uma vez que as novas gerações de mulheres estão melhores capacitadas que as anteriores. Na China, por exemplo, as jovens cresceram na cultura capitalista, suas mães não.
As empresas lutam por cérebros. Em alguns países, as empresas perdem em media metade dos seus profissionais mais capacitados todos os anos (aposentadoria, geralmente). Então, eles tentam substituí-los por jovens talentos. E isso inclui ser mais amigável com as mulheres, mais capacitadas nas novas gerações. Muitas multinacionais criaram redes de jovens talentos somente de mulheres. Boehringer Ingelheim (uma grande farmacêutica) e CitiBank criaram programas específicos para estimular as mulheres a viajar mais a trabalho. A GE na Índia tem programas de treinamentos somente para mulheres.
As grandes empresas nas economia emergentes observam com cuidado os principais problemas para as mulheres: cuidar dos pais idosos, o que geralmente é um problema maior do que cuidar do filhos, e o deslocamento ao trabalho (commute). Muitas empresas oferecem homeoffice para as mulheres, ou horários flexíveis, de forma que podem trabalhar em casa. Outras oferecem transporte de madrugada às mulheres para que possam fazer seus horários e empresas de transporte fretado para mulheres crescem na Índia e no Brasil.
Tudo isso pode parecer um pouco utópico, coisa para poucas. Mas isso já é um grande sinal de progresso, afinal estamos falando de países onde as mulheres até hoje são bastante discriminadas (a exemplo da China e dos países árabes) ou encontram pouco espaço numa sociedade machista (como nosso Brasil). O rápido crescimento dos países emergentes está jogando as mulheres na vida corporativa, e com isso as atitudes patriarcais estão começando a desaparecer. 

Pedro Junqueira