17 de jul. de 2011

O Brasil não é um país para gênios

Muito se fala, escreve e comenta sobre o apagão de talentos no País. Diz-se que para que continuemos crescendo a um ritmo sustentado (e sustentável), precisamos formar mais profissionais bem capacitados e, sobretudo, gestores de RH prontos para enfrentar esse desafio. Curiosamente, na prática, pesquisas indicam que somente que está ganhando com esse alarde são as consultorias em gestão de pessoas e as escolas de negócios, e não os profissionais bem capacitados tão demandados. 

O tão comentado apagão da mão-de-obra vem sendo atribuído a um efeito colateral do crescimento acelerado da economia brasileira. Este termo evidencia as dificuldades que a sociedade vem enfrentando com a oferta limitada de profissionais, dos mais diversos níveis de capacitação, diante das necessidades dos setores econômicos em transformação. De maneira geral, trata-se de um fenômeno complexo, que incide de forma diferente nos variados setores, mas que tem uma raiz comum: as deficiências históricas de nosso sistema de educação, dos níveis mais básicos à educação continuada. Há duas formas de sua manifestação desse fenômeno: 

1) A primeira é a indisponibilidade de recursos humanos para fazer frente aos desafios do crescimento. Diante do dinamismo de determinados setoreses, não temos dado conta da formação especializada dos recursos humanos necessários, apesar da forte expansão do ensino superior e da pós-graduação.

2) A segunda forma de manifestação do apagão da mão-de-obra diz respeito à qualidade da formação de nossos recursos humanos. Entre os formados e teoricamente capacitados, muitos detêm competências limitadas devido às debilidades históricas da educação no Brasil. 

Agora bem, vamos enfocar-nos no caso dos profissionais com nível superior e a demanda por estes. De acordo com o INEP, Em sete anos, o Brasil dobrou o número de concluintes na educação superior. Esse número, que foi de 467 mil em 2002, passou para 959 mil em 2009, de acordo com dados do Censo da Educação Superior. O número de matrículas na educação superior brasileira aumentou de 3,5 milhões para 5,9 milhões nesses sete anos. Ou seja, nunca tivemos tantos profissionais de nível superior. O mesmo estudo indica que o país possui uma grande saturação em determinadas formações, destacando-se Administração e Direito. Mas eu pergunto, quem determina a concentração em determinadas áreas: as pessoas individualmente ou o mercado?

Deixe-me formular melhor a pergunta. Quando você decidiu o que estudar, o que te influenciou mais: seu desejo íntimo ou a demanda por profissionais e os benefícios de determinada área? Tenho certeza que você respondeu a segunda (alguns podem estar dizendo que não). E de onde parte sua percepção sobre o setor mais atraente? De uma pesquisa profunda e sistemática? Estou seguro que não. Ela parte dos artigos de revistas tipo Você/SA, da publicidade das Universidades e das conversas com amigos. E essa percepção é gerada intencionalmente pelo mercado da ecducação e das agências de RH. Conclusão: temos um perfil de graduados em nível superior no país com números históricos e que atente aos requisitos do mercado em determinado momento. 

Agora nos dizem que somos poucos os que temos nível superior, e que ademais temos que seguir estudando. Mas o que o IPEA constatou numa pesquisa recente é que os jovens profissionais bem capacitados estão com dificuldades de entrar no mercado de trabalho, tendo que aceitar condições de trabalho bastante abaixo de suas expectativas. Por outro lado, os profissionais já colocados no mercado estão vivendo um aumento nos seus benefícios que é maior do que sua produtividade. Ou seja, os profissionais que formamos agora entram no mercado com condições precárias, enquanto aqueles já posicionados são retidos pelas empresas em condições que não condizem com sua produtividade. O que os dados nos indicam é que estamos passando por uma  bolha no mercado de trabalho. Esse alarde sobre o tal apagão tem levado a muitas contratações, aumento dos salários e baixa produtividade comprometem crescimento do país.

O resultado de tudo isso é um panorama preocupante para os próximos anos. O país terá uma taxa menor de crescimento econômico pela desaceleração derivada do controle da inflação, por tanto o mercado irá responder com menos contratações. Os altos salários dessa bolha que estamos vivendo forçarão as empresas a diminuir benefícios num momento de dificuldade, e os novos entrantes no mercado é que enfrentarão as condições precárias. E esses novos entrantes são justamente os jovens bem capacitados que hoje querem preencher a lacuna do tal apagão.

Portanto você, novo entrante ou profissional estabelecido, fique atento, pois o Brasil não é um país feito para os gênios.

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